Quinta a um sábado
Depois dos excessos do dia de ontem resolvemos fazer algum exercício físico, é claro que estas coisas são sempre decididas no dia anterior, no calor do lar, aquecidos pelo chá, com uma mantinha nas pernas.
Estacionamos o carro no topo de uma colina, em frente a uma capela, resolvemos seguir o percurso histórico que é como quem diz, caminho escorregadio de pedras e de terra, folhas, lama, felizmente não tropecei em nada como é hábito. Mal chegamos à aldeia começou a chover e o frio era tal que não conseguia sentir nem as orelhas, nem a ponta do nariz. Os cafés estavam cheios de locais e visitantes que tinham sentido, tal como nós, o apelo do frio e da natureza.
Arranjamos um mapa no posto de turismo para, pelo menos, encontrarmos a tal capela onde tinhamos estacionado o carro enquanto calculávamos o doloroso regresso, mesmo no meio do mapa estava marcado uma quinta, cheia de desenhos de torres e jardins labirinticos, não ficava propriamente no caminho de volta mas também não o alongava mais.
O terreno circundante era imponente mas nada me faria prever quão fantástico era o jardim (jardim é uma palavra pobre para o descrever, já que o meu, ao lado daquele, parece um terreno baldio de 2x2m).
Subimos algumas torres, descemos outras tantas, passámos por lagos e pedras "suspensas" na àgua, encontramos uma clareira com duas arcadas brancas, numa delas nada, um muro de pedra, na outra escuridão, uma gruta. Como miúdos, com os telemóveis na mão a iluminar mal o caminho, seguimos por aquele buraco na rocha, por momentos perdi-me, passaram segundos mas a sensação de não me conseguir orientar foi tão forte que senti as pernas a perder força e quase me baixei, uma mão agarrou o meu casaco e puxou-me até conseguir ver um fiozinho de luz solar. Do outro lado do buraco... um lufada de ar frio, húmido e rarefeito e a incredulidade!
Estava dentro de um poço, mais precisamente a meio das escadas que ladeavam o poço de 15 metros, em cima um céu azul acinzentado, em baixo um chão claro iluminado pela luz que mal chegava lá. A água escorria e pingava pelas paredes, criando uma pequena sinfonia que ressoava ao longo de todo o percurso.
Vi coisas lindíssimas naquele jardim mas depois do poço tudo parecia menos emocionante.
Fomos seguindo o percurso indicado no mapa até ao portão e como ainda nos sentiamos travessos trocamos o sentido de algumas placas que indicavam o sentido da saída.
Enquanto fumava um cigarro, a olhar para uma das muitas estátuas brancas, recebi, uma mensagem vinda de longe, que tinha ficado pendente naquele limbo tecnológico, que me fez esquecer o frio que nunca nos tinha deixado e me colocou em frente a uma lareira com direito a uma bebida quente.
O banho quente e o jantar a relembrar Marrocos, que seguiu este contacto com a natureza pareceram irreais, ainda estava com a minha cabeça no poço, felizmente o corpo estava no calor.
2 comments:
olá!
Estive lá no verão e tal como descreveste também eu me deliciei a percorrer a quinta e a descobrir nos caminhos de túneis ramificados a saída para a luz!
Obrigada pela recordação!
:)
De nada :)
Bem vinda à minha humilde companhia aérea.
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