Hoje, nem sei bem porquê tive uma recordação de criança, da altura em que as coisas era bastante simples.
Lembro-me de ser pequena, mal andava na escola primária, tinha uma obsessão por plantar coisas, passava a vida a plantar milho, ervilhas e feijões na horta de casa, em copos vazios de iogurte, tinha sempre uma dezena de coisas a germinar, uns fios verdes e esguios com duas ou três folhas, se sobreviviam eram transplantadas para vasos ou para a horta, se morria eram substituídos por novas tentativas.
Um dia, não sei se por iniciativa própria ou se por sugestão de alguém resolvi plantar esparguete. O esparguete habitava o mesmo armário da dispensa que os feijões e o milho por isso fazia todo o sentido que se reproduzisse da mesma forma, ainda por cima nunca tinha visto uma planta de massa antes.
Arranjei um canto especial na horta, marquei carreiros de terra fofa e bem regada e iniciei a minha plantação espetando uns paus de esparguete pela terra fora.
Todos os dias regava na esperança que mais dia menos dia florescesse como o resto das plantas mas ao fim de uma semana a massa começou a apodrecer e a entortar com humidade.
Quando um dia contei, à mesa, o meu plano, houve uma gargalhada geral e a explicação de que o esparguete não nascia mas era produto de uma fábrica.
A desilusão e a vergonha foram enormes, comparável ao momento em que me disseram que não havia pai natal (mas essa história é outra e só se passou uns anos mais tarde).